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Organizadas dividem-se em apoio e repúdio ao cadastramento

A proposta de cadastramento de torcedores e criação de um cartão de identidade obrigatório para a entrada nos estádios brasileiros a partir de 2010 nasceu cercada de polêmica. A Ordem dos Advogados do Brasil e o Clube dos 13 declararam-se contra o projeto, assinado e enviado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso na semana passada. Alguns setores das arquibancadas, porém, dividem-se em apoio e repúdio. O UOL Esporte ouviu representantes de algumas das principais torcidas organizadas do país. Dos dez localizados pela reportagem, seis reprovaram a idéia, enquanto que os quatro restantes mostraram receptividade.

"É um projeto que precisa ter início, mas não da maneira como querem colocar. Imagina quem vem passar férias no Rio de Janeiro ou apenas ver um jogo internacional no Maracanã. Não vai poder porque não tem o cartão? Isso não existe", reclama Sérgio Barbosa Pinto, presidente da Fúria Jovem, do Botafogo. "Toda iniciativa de se combater a violência é benvinda. Mas eu acho que não vai modificar em nada, pois o cara que briga nem entra no estádio. O que precisa fazer é uma política de educação", acrescenta José Carlos Peruano, líder da Urubu Guerreiro, do Flamengo. "A Legião Tricolor considera isso inconstitucional. Nenhum torcedor é obrigado a se cadastrar", completa um dos chefes da facção do Fluminense, Maron Bernardino.

ENTENDA O CADASTRAMENTO

A Argentina também adotará a medida
A instituição do cadastramento, via alteração do Estatuto do Torcedor, ainda será votada pelo Congresso. Mas já tem até data para, se aprovada, entrar em vigor: junho de 2009. Os torcedores interessados em acompanhar jogos do Campeonato Brasileiro da Série A e da Série B de 2010 serão identificados com cartão magnético de uso obrigatório, pessoal e intransferível.

O cadastramento e o cartão, que terá foto do torcedor, fazem parte de um pacote de reforço de segurança nos estádios idealizado pelo Ministério do Esporte. Segundo o ministro Orlando Silva Júnior, a idéia do cartão partiu da experiência das autoridades inglesas para combater a violência nos estádios. Lá, os clubes fazem a identificação de seus próprios torcedores e os ingressos para os jogos da seleção são vendidos mediante o cadastramento do comprador.

A medida também deve ser adotada na Argentina, que já registra 234 mortes decorrentes de brigas entre torcidas. A partir do próximo ano, os torcedores também serão cadastrados, e aqueles que tiverem condenação por atos violentos serão impedidos de assistir aos jogos nos estádios.
MEDIDAS CONTRA O 'SOFRIMENTO'
CLUBES SÃO CONTRA PROJETO
VOCÊ É A FAVOR OU CONTRA?
Os protestos mais veementes vêm de São Paulo, onde, desde 2007, existe um cadastramento obrigatório para que torcedores organizados entrem com faixas e vestimentas nos estádios.

"Não funcionou no Estado, como é que vai funcionar no Brasil todo?", questiona André Guerra, presidente da Mancha Alviverde, principal organizada do Palmeiras. "Tem estádio no país que não tem condição de ter um jogo, quanto mais catraca eletrônica para o torcedor passar esse cartão. Eles [dirigentes] acham que aqui é Europa. Está chegando a Copa [de 2014] e todo mundo tem uma idéia mirabolante."

Segundo Guerra, dos 17 mil membros da Mancha, "cinco ou seis mil" aderiram ao cadastramento obrigatório. "O projeto deles era individualizar o ato, mas o que aconteceu foi o contrário. Teve um jogo em Ribeirão Preto, contra o São Paulo [pelo Estadual de 2008], em que nós identificamos 15 torcedores nossos que participaram de um tumulto. Entregamos a lista às autoridades e esperamos alguma medida ser tomada. Era a chance de eles mostrarem serviço e responsabilizarem os infratores. Só que nada foi feito. Quem pagou a conta foi a entidade: nós e a Independente [Tricolor, principal organizada do São Paulo] ficamos até o final do Paulista sem poder entrar com faixas no estádio", relata.

A Gaviões da Fiel, maior facção de torcedores do Corinthians, com 84 mil membros, considera discriminação a necessidade de se obter o cartão do torcedor para acompanhar jogos de futebol. "Por que não cadastra todo mundo para ir no [sic] teatro, cinema, zoológico? Isso aí é mais uma coisa que inventam para alguém tirar vantagem", dispara o presidente da entidade, Hebert César Ferreira.

No Sul, Inter e Grêmio já possuem, respectivamente, cerca de 70 mil e 40 mil cadastrados através do programa de sócio-torcedor. A obrigação de passar por um novo processo burocrático gera divergências entre os rivais. "Isso é uma bobagem. Nós já temos nossa identificação há dois anos, estamos cadastrados tanto na Brigada Militar como no Ministério Público. Aqui dentro do estádio não há problema nenhum de violência ou insegurança. A questão é colocar mais segurança nas ruas. Além disso, por questões burocráticas, a medida vai afastar o público dos estádios", diz Marcelo Kripka, mandatário da Fico, do Internacional.

Já a Velha Escolha, dissidente da Geral do Grêmio, diz ter sido responsável por sugerir o cadastramento à direção do clube. "Todo torcedor precisa ser identificado para que inocentes não sejam penalizados por causa de outros. Nosso objetivo é fazer com que o Grêmio seja um clube pioneiro nesse tipo de medida de segurança", explica o líder da torcida, Marçal Alves.

As facções Bamor, do Bahia e, Imbatíveis, do Vitória, também gostaram da novidade. A Galoucura, do Atlético-MG, diz que apoia, mas pleiteia um espaço reservado para ela no Mineirão. "Assim a gente tem um maior controle sobre quem está na partida e, caso aconteça algum problema, possa cobrar dos responsáveis", explica o conselheiro da facção Anderson Arcebispo.

* com escritórios de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador

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